sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Projeto Pioneiras apoia pesquisa de mestrado que estudará quintais e sítios agroflorestais na região do Médio Juruá

Gustavo junto a moradores da comunidade Novo Horizonte
em uma oficina de produção de mudas; boa ferramenta para
sensibilização ambiental.
O ecólogo e aluno de mestrado do programa de Ciências de Florestas Tropicais (CFT) do INPA, Gustavo Ganzaroli Mahé, associado ao Projeto Pioneiras e orientado pela Dra. Rita Mesquita e Dra. Maria Clara Forsberg, acaba de voltar de seu trabalho de campo na região do Médio rio Juruá em Carauari, AM.

O estudante visitou comunidades de várzea e de terra-firme localizadas na Reserva Extrativista do Médio Juruá e Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uacari com o intuito de realizar um estudo sobre o uso dos recursos da agrobiodiversidade, determinando quais os principais fatores que influenciam as tomadas de decisão dos agricultores no processo de criação dos quintais e sítios agroflorestais.

Agricultor discorrendo sobre o processo criativo de seu sistema

agroflorestal. Pesquisar sobre o saber ecológico local contribui
para o reconhecimento de práticas de manejo adequadas e
adaptadas ao contexto da região.
As oportunidades e desafios atuais, como o balanço entre produção e demanda do mercado, dificuldades de logística para extensão rural e acesso ao mercado, organização social e situação socioeconômica envolvida, constituem fatores que devem ser melhor investigados para identificar o quão influentes são para o desafio de produzir alimentos e desenvolver uma agricultura sustentável.

Inicialmente houve um trabalho de aproximação junto às lideranças locais e moradores das comunidades através de reuniões e palestras para esclarecimento dos objetivos do projeto. Após este contato inicial, foram aplicadas entrevistas (com o consentimento dos participantes), observação participante e oficinas participativas. Para a coleta dos dados etnobotânicos foram utilizadas turnês guiadas em agroecossistemas como quintais, roças, casas de farinha e sítios agroflorestais, para identificação das espécies e classificação quanto aos usos e formas de manejo.
Rico de informações e aprendizado, canteiros de hortaliças, condimentos,
ervas medicinais e ornamentais são importantes para a segurança alimentar
e saúde, além de espaços para produção de mudas frutíferas onde a
experimentação e a criatividade feminina se expressam.

Este trabalho de mestrado vai agregar informações às outras etapas do Projeto Pioneiras que se dedica a estudar cronossequências de capoeiras e realizar uma análise econômica de alternativas de produção agroecológica para região do Médio rio Juruá.

Projeto Pioneiras inicia estudos socioeconômicos relacionados à produção de farinha e ao plantio de sistemas agroflorestais no médio Juruá

O Projeto Pioneiras está auxiliando os produtores rurais do médio rio Juruá a implantarem sistemas agroflorestais com a perspectiva de melhorar a renda e a segurança alimentar das famílias que vivem na Reserva Extrativista (Resex) do Médio Juruá e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uacari. Ambas ficam no município de Carauari, no Estado do Amazonas, distante de Manaus cerca de 1.670 km por via fluvial.

Comunidade Bom Jesus, na RDS Uacari, onde o Projeto Pioneiras desenvolve atividades de pesquisa e extensão.
Dados dos planos de gestão das reservas, de 2009 e 2010, contabilizaram 550 famílias e cerca 3.200 pessoas morando nas duas reservas, distribuídas em 57 comunidades. Boca do Xeruã é a comunidade mais distante, no extremo da RDS do Uacari, a mais de 400 km da sede de Carauari. Uma viagem à esta cidade pode levar até 52 horas de barco. Além de dispendiosa, produtos perecíveis se estragam na longa viagem. Como na comunidade também não há fornecimento de energia elétrica, a comercialização de alguns produtos processados, como o vinho de açaí, torna-se inviável. Esses entraves afetam o potencial que diferentes produtos possuem como fonte de renda para as famílias da região.
Novo Horizonte, na Resex do Médio Juruá, outra comunidade
foco do trabalho na região do médio Juruá.

Na perspectiva de melhorar a renda e a segurança alimentar das famílias, especialmente as que moram nas comunidades mais distantes, o Projeto Pioneiras, em parceria com a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), está auxiliando algumas famílias na implantação de 20 hectares de sistemas agroflorestais (SAF’s) em roçados de mandioca abandonados e hoje recobertos por capoeiras.

A primeira ida a campo para a coleta de dados foi realizada em março de 2014. Foram levantadas informações sobre o preparo da terra, plantio, manutenção e colheita da mandioca, assim como do processamento e transporte da farinha. Isso vai permitir a análise comparativa entre o custo-benefício da produção dos roçados de mandioca e dos SAF’s planejados. Dados parciais sobre os rendimentos da produção de farinha mostram que, dependendo das decisões e estratégias adotadas por cada família no processo produtivo, as famílias podem ter um prejuízo de até R$ 3.000,00 por hectare de roça cultivada ou, pelo contrário, lucros que chegam a R$ 28.000,00.

Mandioca sendo torrada para a produção de farinha.
A estimativa é de que a conclusão desses trabalhos ocorra até o início de 2015, e a expectativa é de que os produtores possam decidir, com base também nos custos e no retorno financeiro de cada opção de trabalho da terra, as melhores estratégias para empregar sua força de trabalho.